parallax background

Profetas do Amor


Ministros da reconciliação


Aprender


Um coração que aprende a acolher o próximo!


O caminho do coração é profundamente relacional: ensina a criar pessoas livres das limitações do egoísmo e das amarras das feridas e ressentimentos, capazes de relações fraternas, marcadas pela verdade, justiça, misericórdia, amor. À luz do Espírito, este caminho relacional abre- se a novos horizontes: desde a sua efusão no dia de Pentecostes, o Espírito revela-Se como gerador de uma nova família humana, removendo as barreiras de nação, raça ou cultura. Esta comunidade tem por modelo e primogénito o Senhor Jesus, que supera toda a divisão e violência com o amor e o perdão para os próprios perseguidores, tornando-se dom de reconciliação e de paz.

A primeira realização deste projecto de criação de Deus, tem lugar no âmbito da própria família, onde se aprende a amar e ser amado para além do próprio interesse ou utilidade, na gratuidade do próprio amor. Construindo a sua comunidade, não já sobre as raízes do sangue, da cultura ou etnia, Jesus não anula esta dinâmica natural do coração humano. Ao contrário, vendo os discípulos sentados à sua volta, apresenta-os como sendo a família dos que escutam e realizam a vontade de Deus (cf. Mc 3,31-35). A ternura e a atenção de mãe, pai, irmão e irmã devem caracterizar as relações entre eles. Assim, o encontro com Cristo conduz sempre a esta nova família, tanto nos percursos do Jesus histórico, pela Palestina, como nos encontros com o seu Espírito, depois do Pentecostes, nas estradas do mundo inteiro. O contacto dos discípulos de Emaús com o Senhor ressuscitado, que representa o caminho da Igreja, é um exemplo disso. Depois de terem reconhecido o Senhor, “partiram imediatamente e voltaram a Jerusalém” para se reintegrarem na comunidade dos discípulos (Lc 24,33). Os caminhos pessoais com o Espírito do ressuscitado terminam sempre na sua comunidade.

A vida no seio desta comunidade tem um modelo e uma lei, que é Cristo e o seu amor: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. Nisto todos vos reconhecerão como meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,34-35). A configuração com Cristo, o homem de Coração novo, na força do seu Espírito, torna-nos capazes de participar na construção da nova humanidade, segundo o projecto de Deus. A sua atitude de Mestre e Pastor, o cuidado que tem pelos discípulos, pelos doentes e pecadores e o amor levado às últimas consequências, até à morte, constituem a fonte de inspiração, a regra e o distintivo dos membros da sua comunidade. Por isso, toda a comunidade cristã se compreende e organiza, antes de mais, como comunidade de oração, para acolher e escutar a voz do seu Senhor, discernir a sua vontade, recompor as rupturas, orientar e tornar fecunda a missão.

O desafio da comunhão é particularmente importante nas nossas comunidades de consagrados, que aceitam o convite para um seguimento radical de Cristo, testemunhar o seu amor e pôr-se inteiramente ao serviço da construção do mundo novo na força do Espírito. Nas relações com os outros, a começar pela própria comunidade, pode ver-se até que ponto nos deixamos realmente converter e configurar com o Coração de Cristo. Sem o testemunho do amor concreto, enganamo-nos a nós mesmos (cf. 1Jo 4,20) e não passaremos de vendedores de fumo. A configuração do coração com Cristo, na sua dimensão relacional, exige uma constante conversão e reconciliação, de modo que cada um possa fazer, nas relações com os outros, a experiência de oferecer e receber o amor de Cristo, traduzido em gestos concretos de acolhimento, perdão, ajuda, colaboração e esperança.

Não nos devemos, porém admirar se as nossas comunidades não são perfeitas e se nelas há conflitos, divisões, incompreensões e rupturas. O coração humano e o tecido social de que fazemos parte continuam marcados pelo egoísmo, pela exploração e abuso dos outros, pela injustiça e opressão, pelo conflito e pela morte. O dinamismo da reparação/regeneração, presente na solidariedade de Cristo com a humanidade, leva-nos a olhar para tudo isso com um coração de “com-paixão” responsável e de esperança. Perante o peso das nossas relações e do pecado das nossas comunidades e da Igreja, é grande a tentação de desanimar, de deixar de participar ou pôr-se de parte, ou então revoltar-se, assumir uma atitude de crítica externa ou de recusa. Cristo, o homem novo, não se comportou assim! Diante da incapacidade dos discípulos de compreender e assumir o seu programa de novas relações, não desistiu, nem os mandou embora ou condenou. Manteve-Se fiel e solidário, quando faliram; continuou a afirmar claramente o seu caminho, quando seguiam outras solicitações; carregou sobre Si o peso da reabilitação deles, quando caíram; pagou o preço do seu resgate, quando ficaram reféns do medo e da desilusão … e nem chegou a ver com os olhos terrenos a sua recuperação. Será depois da sua morte e ressurreição, pela acção do Espírito, que começarão a compreender e a usar a nova lógica do amor e da reconciliação, na construção da sua comunidade. Dada a inconsistência do coração humano, não é possível um autêntico projecto de comunhão duradoura sem esta nova lógica de oferecer-se a si mesmo para reconciliar, reparar, regenerar: fazer com que onde abunda o pecado, superabunde a graça e o perdão (cf. Rm 5,15).

Uma característica fundamental do amor de Cristo é a sua universalidade, para além de toda a língua, cultura ou nação. Na lógica do projecto de Deus, o caminho do coração é um itinerário de libertação de si mesmo em círculos cada vez mais largos, até abranger a humanidade inteira. Por isso, a dinâmica da comunidade que vivemos sob o impulso do Espírito de Cristo abre-nos e prepara-nos para viver a internacionalidade nas nossas comunidades e nos nossos projectos de missão. Para um dehoniano, a perspectiva intercultural e internacional não é simples concessão a uma moda ou uma estratégia de desenvolvimento, mas é dimensão fundamental para quem se deixou contagiar e transformar pelo Coração de Cristo e quer colaborar na construção da sua Igreja e na renovação do mundo.

Isso exige uma consciência e afirmação da própria cultura e riqueza tradicional, de modo a poder enriquecer a comunidade intercultural, mas requer igualmente a libertação de toda a forma de preconceito, discriminação ou arrogância, baseados na raça, etnia ou cultura. Vivemos num mundo marcado pela globalização, mas onde cada vez mais emergem abismos de intolerância, marginalização e exploração dos mais fracos, pela imposição do pensamento, da cultura e dos interesses dos mais fortes. A experiência da interculturalidade, que vemos crescer na Congregação, pretende ser a expressão do contributo evangélico na construção de um mundo universalmente mais fraterno.

parallax background

Caminho PodCast


Acompanhe o nosso PodCast. Um bate papo bem legal sobre diversos temas da vida da Igreja e sobre a importnicia de pensar bem a vocação.